sábado, 29 de janeiro de 2022

Tarde demais: a história de 2016 já está escrita

 Reproduzo abaixo a resposta da nossa Presidenta Dilma para Miriam Leitão, mas que se aplica a tantos outros atores conhecidos e anônimos que fazem de conta que não têm participação na tragédia que é o governo Bolsonaro. 

Me espanta, espanta mesmo, que tantos que articularam o golpe (que começou já na campanha de Aécio Neves), apoiaram a farsa da lava jato, apoiaram Bolsonaro... agora se façam de desentendidos. São culpados e, se houvesse de fato arrependimento, ao menos uma autocrítica, já deveriam ter feito. Claro, sem que isso apague as consequências desse desastre, afinal é "Tarde demais: a história de 2016 já está escrita." Eis o texto:

Tarde demais: a história de 2016 já está escrita.

Miriam Leitão comete sincericídio tardio em sua coluna no Globo de hoje (24 de janeiro), ao admitir que o impeachment que me derrubou foi ilegal e, portanto, injusto, porque, segundo ela, motivado pela situação da economia brasileira e pela queda da minha popularidade.

Sabidamente, crises econômicas e maus resultados em pesquisas de opinião não estão previstos na Constituição como justificativas legais para impeachment. Miriam Leitão sabe disso, mas finge ignorar. Sabia disso, na época, mas atuou como uma das principais porta vozes da defesa de um impeachment que, sem comprovação de crime de responsabilidade, foi um golpe de estado.

Agora, Miriam Leitão, aplicando uma lógica absurda, pois baseada em analogia sem fundamento legal e factual, diz que se Bolsonaro “permanecer intocado e com seu mandato até o fim, a história será reescrita naturalmente. O impeachment da presidente Dilma parecerá injusto e terá sido.” 

O impeachment de Bolsonaro deveria ser, entre outros crimes, por genocídio, devido ao negacionismo diante da Covid-19, que levou brasileiros à morte até por falta de oxigênio hospitalar, e por descaso em providenciar vacinas.

O golpe de 2016, que levou ao meu impeachment, foi liderado por políticos sabidamente corruptos, defendido pela mídia e tolerado pelo Judiciário. Um golpe que usou como pretexto medidas fiscais rotineiras de governo idênticas às que meus antecessores haviam adotado e meus sucessores continuaram adotando.

Naquela época, muitos colunistas, como Miriam Leitão, escolheram o lado errado da história, e agora tentam se justificar. Tarde demais: a história de 2016 já está escrita. A relação entre os dois processos não é análoga, mas de causa e efeito. Com o golpe de 2016, nasceu o ovo da serpente que resultou em Bolsonaro e na tragédia que o Brasil vive hoje, da qual foram cúmplices Miriam Leitão e seus patrões da Globo.

DILMA ROUSSEFF