Em seu ensaio *"Esquerdismo, Doença Infantil do Comunismo"*, publicado em 1920, Lenin discute o "esquerdismo" como uma forma de radicalismo que, ao rejeitar qualquer tipo de compromisso ou concessão com as forças adversárias, enfraquece a capacidade de organização e ação estratégica do movimento comunista. Para Lenin, o esquerdismo, ao contrário de uma postura combativa e realista, representa um desvio idealista que se recusa a adaptar-se às condições políticas e sociais concretas, muitas vezes levando a uma prática isolada e ineficaz.
Lenin critica o "esquerdismo" por sua rigidez e por ignorar a necessidade de alianças e concessões táticas no contexto político. Ele acreditava que os movimentos de esquerda precisavam ser flexíveis para garantir avanços práticos e progressivos, ainda que pequenos, na luta de classes. A visão esquerdista, por sua vez, tende a rejeitar alianças com partidos ou grupos não alinhados totalmente com o socialismo, o que, segundo Lenin, acaba alienando a classe trabalhadora e dificultando a formação de uma coalizão ampla o suficiente para impulsionar a revolução socialista.
Além disso, Lenin via o esquerdismo como uma postura imatura, que subestimava a importância de atuar nas instituições políticas existentes, como parlamentos e sindicatos, e também rejeitava a necessidade de lideranças organizadas. Para ele, esses espaços eram fundamentais para fortalecer o movimento comunista e educar politicamente a classe trabalhadora, e um comportamento esquerdista que os desprezasse por considerá-los "burgueses" representava uma forma de isolamento e sectarismo.
O esquerdismo, então, é visto por Lenin como uma "doença infantil" da revolução, um erro típico de militantes idealistas que, em vez de se envolverem com as realidades práticas da luta política, preferem uma postura purista. Esse purismo leva a uma desconexão com as massas, pois as demandas e os métodos do esquerdismo frequentemente não correspondem à experiência de vida da maioria dos trabalhadores. Lenin acreditava que o radicalismo desmedido prejudicava o crescimento da consciência de classe e distanciava o partido revolucionário das massas populares, dificultando a construção de uma base sólida para a revolução.
Lenin também argumentava que o "esquerdismo" poderia ser uma reação ao oportunismo excessivo de certos setores da esquerda, que se distanciavam da luta revolucionária para se acomodar no sistema capitalista. No entanto, ele acreditava que a solução não era um movimento antissistema absoluto e desconectado da realidade, mas sim uma abordagem que soubesse equilibrar táticas de colaboração e confronto. A "doença infantil" do esquerdismo, portanto, é criticada como uma barreira que impede a formação de uma vanguarda sólida e organizada, capaz de liderar efetivamente a classe trabalhadora.
Para Lenin, superar o "esquerdismo" exigia maturidade política, capacidade de autocrítica e a habilidade de adaptar as táticas revolucionárias às condições materiais e culturais de cada sociedade. Esse realismo estratégico permitiria que o movimento comunista fosse mais eficaz em suas ações, ampliando seu apoio popular e fortalecendo a luta contra o capitalismo. Em suma, o "esquerdismo" para Lenin era uma tendência que, ao rejeitar a estratégia e a tática, comprometia a efetividade do movimento socialista e dificultava a construção de um caminho concreto rumo à revolução.
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